A aprendizagem através do erro.

Aula de Enfermagem do trabalho  - Dia 6-11-2015

Escrevo estas linhas quase em jeito de desabafo, para expressar a frustração que hoje vivi na aula de enfermagem do trabalho. Na semana anterior descrevi neste portfólio as atividades desenvolvidas na Semana Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, nomeadamente com o programa de promoção para a saúde – Consulta de Nutrição. Fi-lo com algum orgulho já que as atividades de promoção para a saúde dos trabalhadores não constituem uma prática habitual de muitos Serviços de Saúde ocupacional.

Aquilo que pretendia era dar resposta ao que vem no enunciado descritivo de qualidade do exercício profissional dos enfermeiro para a promoção da saúde  “o enfermeiro ajuda os clientes a alcançarem o máximo potencial de saúde”  (Ordem dos Enfermeiros, 2001, p.14)  identificando a situação de saúde da população, criando e aproveitado as oportunidades para promover estilos de vida saudáveis.  No entanto foi uma abordagem baseada mais no instinto que em evidencias cientificas.

Ao abordar na aula o modelo PROCEED como metodologia para a educação para a saúde, constatei o meu deficit (e daí a frustração) de conhecimentos nesta matéria. Apesar de algumas etapas do modelo Modelo Precede-Proceed estarem presentes na minha actividade de promoção para a saúde, outras foram totalmente negligenciadas. O Modelo PRECEDE – PROCEED  é uma teoria educacional com ampla utilização no planeamento de programas promoção da saúde. Este modelo tem aplicabilidade comprovada no campo da educação nutricional (Benson & Taub, 1993; Green, 1994).

Este modelo é fundamentado num diagnóstico sequencial apresentado em 7 etapas

Etapa 1 e 2:  Diagnóstico social e epidemiológico corresponde à avaliação dos aspectos relacionados à “qualidade de vida” da população que afetam o problema de saúde prioritário.

Etapa 3:  Diagnóstico ambiental e aomportamental corresponde à identificação das causas do problema relacionadas com os determinantes comportamentais (motivação, conhecimentos, crenças, percepções, barreiras, habilidades) e as causas não comportamentais relacionadas ao problema de saúde.

Etapa 4 e 5:  Diagnóstico educacional corresponde à identificação dos fatores predisponentes (crenças, valores, percepções que ajudam à motivação pessoal para a mudança de comportamento), dos fatores facilitadores (barreiras sociais; falta de recursos e dos fatores de reforço (profissionais de saúde, a família) que podem estimular ou não a mudança de comportamento).

Etapa 6:  Seleção de métodos e recursos educacionais corresponde à seleção das estratégias, dos métodos, dos recursos e das atividades educacionais

Etapa 7:  Avaliação corresponde à última etapa prevê a identificação dos indicadores de processo, de impacto e de resultad

Não foi um trabalho perdido, mas o seu alcance e visibilidade poderia ter com certeza outra dimensão, se utilizasse esta metodologia no planeamento. Se pretendo promover a educação do trabalhadores para diminuir a exposição aos fatores de risco, detectar precocemente a doença ou aderir a tratamentos para recuperar a saúde, então tenho de dominar os modelos de Educação para a Saúde e transferir estes conhecimentos para a minha prática. Esta aula foi determinante para evidenciar a necessidade de colmatar estas dificuldades.

A minha intervenção como Enfermeiro do trabalho no domínio da promoção de saúde, deve ser sustentada por capacidades e conhecimentos que me permitam avaliar situações, planear de forma abrangente os cuidados a prestar e avaliar os resultados.  É esta avaliação, tal como vem definido no Regulamento do perfil de competências do enfermeiro de cuidados gerais "Avalia a aprendizagem e a compreensão acerca das práticas de saúde" (2001, p.16) que  traz consigo a fundamentação, que permite argumentar junto dos decisores. Justificar primeiro e demonstrar no fim os ganhos para a empresa através destas ações é por vezes o mais difícil. São necessárias evidências, algo que se pode conseguir utilizando esta metodologia de educação para a saúde ou seja é preciso que a intervenção seja sustentada por um modelo cujos princípios e fundamentos garantam os resultados pretendidos  através um caminho organizado. Desta  forma assegura-se a prestação de cuidados de Qualidade!  Algo que  a Ordem dos Enfermeiros já referia em 2002,  “A qualidade exige, reflexão sobre a prática – para definir objetivos do serviço a prestar, delinear estratégias para os atingir – o que evidencia a necessidade de tempo apropriado para refletir nos cuidados prestados” (Ordem dos Enfermeiros, 2002, p.5). 

Constatei também que a utilização dos métodos unidireccionais baseados em exposições teóricas e puramente informativos têm um êxito limitado. Hoje em dia, coloca-se a ênfase na participação do indivíduo/grupo no processo de educação o que implica a utilização de técnicas mais interactivas de ensino/aprendizagem. Há que desenvolve-las. Consciente de que o exercício profissional se constrói no dia-a-dia, de forma progressiva, num processo contínuo de formação e reflexão sobre e na prática, hoje senti verdadeiramente que esta pós Graduação pode trazer mais-valias para o meu contexto de trabalho. Estas actividades de promoção da saúde são de grande importância no contexto laboral  quer para os trabalhadores quer para a própria visibilidade da Enfermagem do trabalho. Que pena esta temática não ter sido abordada um mês antes!  

A realização destas intervenções, através da partilha de experiências e do confronto de ideias  conduziram a uma actividade para a promoção da saúde e prevenção da doença? Talvez! Porque foi mais do que ajudar, mais do que incentivar... foi agarrar no presente das pessoas, muitas vezes difícil, e tentar transformá-lo num futuro mais promissor, ou pelo menos, com mais qualidade. E esse é também o papel do enfermeiro do trabalho, conhecer a realidade e ajudar a dar-lhe um pouco de cor.  

 

Benson R, Taub D. Using the precede model for causal analysis of bulimic tendencies among elite women swimmers. Journal of Health Education, v. 21, n. 6, p.360-368 [Internet].1993 [acesso em 2015 out 28]. Disponível em:https://agris.fao.org/agris-search/search.do?recordID=US19940125164

Green L. What we can generalize from research on patient education and clinical health promotion to physician counseling on diet? European Journal of Clinical Nutrition, v.53, n.2, p.9-18[Internet].1994 [acesso em 2015 out 28]. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10406430

Ordem dos Enfermeiros. Padrões de qualidade dos cuidados de Enfermagem. Enquadramento conceptual. [Internet]. Lisboa 2001. [acesso em 2015 out 28]. Disponível em: https://www.ordemenfermeiros.pt/publicacoes/Documents/divulgar%20-%20padroes%20de%20qualidade%20dos%20cuidados.pdf

Ordem dos Enfermeiros . Regulamento do Perfil de Competências do Enfermeiro de Cuidados Gerais.[Internet]. Lisboa , 2011. [acesso em 2015 out 05]. Disponível em: https://www.ordemenfermeiros.pt/publicacoes/Documents/divulgar%20-%20regulamento%20do%20perfil_VF.pdf